sábado, 30 de outubro de 2010

Um pouco de cultura!


São 8 horas da noite e quatro jovens de 12 a 15 anos chegam para a aula. A vestimenta inclui sapatilha e roupas confortáveis. As músicas vão do clássico ao contemporâneo. E o entusiasmo mistura euforia com perspectiva. "Nunca tinha dançado, mas é muito divertido. Quem sabe um dia vira profissão", afirma o garoto de 15 anos da Casa dos Meninos, instituição que abriga jovens que foram tirados de suas famílias por maus-tratos, exploração ou falta de subsídios.

Desde agosto, a Escola de Ballet Rafaela Martins realiza o programa "Profissionalizando com Arte”, que almeja formar artistas e pessoas de opinião e caráter. A iniciativa oferece gratuitamente duas aulas semanais de ballet clássico e jazz, uniforme completo e transporte.

O projeto inclui as instituições Casa dos Meninos e Nosso Lar, ambas de Rio Claro.

Os responsáveis pelo "Profissionalizando com Arte” são os bailarinos Rafaela Martins e Hebert Caetano, com apoio da coordenadora Paula Gonçalves. "O projeto busca através da dança uma maior inclusão social, difusão da cultura erudita, e principalmente a formação de um artista-bailarino pronto para o mercado de trabalho atual, que é muito exigente e seletivo", afirma Hebert.

O bailarino acrescenta que uma criança com a formação proposta pelo projeto "certamente aguçará sua busca por uma melhor perspectiva de vida, pois, por meio da arte, conhecerá muitas opções de escolha".

Hebert tem conhecimento do que está coordenando. Nascido em Uberaba, interior de Minas Gerais, o bailarino nasceu em uma família humilde. Em março de 1988, aos nove anos de idade, recebeu um convite coletivo para fazer aulas de jazz. "Ao mesmo tempo tive que começar a trabalhar para ajudar nas despesas de casa. Fui ajudante de pedreiro, vendedor de picolé, vendedor de jornal, churrasqueiro, garçom, cozinheiro, auxiliar de mecânico, jardineiro, lavador de piscina e a cada novo trabalho somente uma coisa permanecia: meus ideais".

Aos 18 anos mudou-se para Uberlândia a convite de uma companhia de dança, que o encaminhou para espetáculos em todo o país, além de Portugal e Espanha.

Não satisfeito, Hebert foi para São Paulo, quando em outra companhia de dança pôde ampliar ainda mais suas perspectivas como bailarino. "Hoje, tenho um currículo respeitável e muito orgulho de ter finalizado minha carreira como bailarino na São Paulo Cia. de Dança, atualmente a maior do país", destaca.

Hebert lembra que nas primeiras aulas de jazz, ainda em Uberaba, 29 outros meninos tiveram a mesma oportunidade de ter contato com a arte. Porém, apenas 4 consolidaram carreira e estão pelo mundo afora brilhando. "É triste porque muitos dos demais tiveram um futuro não muito interessante, tomado às vezes por histórias muito tristes", lamenta.

"Acredito que, como tudo na vida, a arte retorna aquilo que você oferece, na exata medida de sua dedicação e perseverança. A vida e a arte me deram como retorno ascensão social, minha escola, onde posso ensinar o que acredito e aprendi, e a mulher que amo e com quem me casei. A dança me retornou com a felicidade! E é isso que quero oferecer para esses meninos", conclui o bailarino.


Por Ana Ligia Noale (Jornal Cidade)




Vale à pena conferir o espetáculo....eu vou com certeza!

Post by Fer Padula

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